sábado, 10 de julho de 2010

Meu amado avô e o Alzheimer

É tão estranho olhar para o meu avô e não enxergar o patriarca de outrora. Aquele homem forte, robusto e que sempre tomava todas as iniciativas, infelizmente, já não existe mais.
Meu avô é hoje um bebê grande. Alguém que precisa ser asseado por outra pessoa, que não sabe dizer quando sente fome ou sede, que se alimenta apenas por pequenas quantidades de líquidos que lhe são oferecidos, que não se lembra das pessoas que fazem parte da sua família e do seu círculo de amizade.
Lembro do meu avô todo arrumado e perfumado, pronto para ir ao trabalho ou passear. Lembro do meu avô brincando comigo quando eu era criança ou me dando bronca por ter colhido frutas verdes do pé. Lembro do meu avô me aconselhando sobre os estudos, os homens, a vida. E agora, o que tenho? Um idoso que conversa coisas sem nexo e que me chama de "minha filha", mesmo sem saber quem eu sou.
Ainda temos que dar graças à Deus porque o Alzheimer não o faz sofrer. Porém, as pessoas que cuidam dele sofrem tanto... Estamos todos em frangalhos. Interná-lo? Nunca! Como podemos internar uma pessoa que nos cuidou, nos educou e nos amou? Não, não o internaremos! Se o colocássemos num hospital, provavelmente ele seria dopado pelos médicos, pois vovô continua inquieto e dono de uma pseudo-determinação.
Diante deste quadro, convivemos diariamente com as lágrimas. Lágrimas derramadas às escondidas para que vovô não veja e não se entristeça com a nossa tristeza. Lágrimas de compaixão por vê-lo nesta situação e pela impotência que nos assola.
O vejo imóvel, com o olhar daqueles olhinhos pequeninos longe... E me pergunto: "No que será que ele está pensando"? E de repente ele me olha e me pergunta: "O que foi minha filha"? Fico muda e apenas beijo a cabecinha branca dele.
É, diante do Alzheimer, as únicas coisas que podemos dar ao doente são carinho e paciência. Ele jamais voltará para o nosso mundo, os doentes de Alzheimer "tocam a existência sem o instrumento da memória¹".

¹Roberto Pompeu de Toledo, jornalista.

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