
Em 2006, eu e mais duas primas resolvemos nos aventurar no carnaval pernambucano. Juliana morava em um apartamento localizado no bairro Boa Vista – Recife. Assim que cheguei com Isa, fomos as três ao supermercado e abastecemos a geladeira com comidas rápidas e fáceis de preparar, sem esquecer as polpas de frutas e dois litros de vodka.
Saíamos sempre por volta das 10:00h munidas cada uma de roupas leves e confortáveis, levávamos algum dinheiro no bolso, garrafinhas com nossa bebida (polpa de fruta, vodka e gelo) e muita alegria! Pegávamos um táxi que nos deixava na entrada de Olinda. Encontrávamos várias pessoas, algumas fantasiadas, outras usavam shorts e camiseta, mas todas muito animadas e subindo a primeira ladeira que nos levaria para a folia. Prontas para frevar!
Um dos primeiros pontos era a Prefeitura Municipal de Olinda, sempre bem decorada, repleta de bonecos gigantes, muita gente animada dançando ao som contagiante do frevo e até o Hino do Estado de Pernambuco caía no ritmo carnavalesco. Foram dias de folia embalados por:
♪ Olinda! Quero cantar a ti essa canção/ Seus coqueirais, o teu sol, o teu mar/ Faz vibrar meu coração, de amor a sonhar/ Minha Olinda sem igual/ Salve o teu carnaval! ♪
♪ Salve! Ó terra dos altos coqueiros!/ De belezas soberbo estendal!/ Nova Roma de bravos guerreiros/ Pernambuco, imortal, imortal! ♪
♪ Voltei, Recife,/ Foi a saudade que me trouxe pelo braço,/ Quero ver novamente,/ Vassoura na rua abafando/ Tomar umas e outras e cair no passo. ♪
♪ Você diz que ela é bela/ Ela é bela, sim, senhor/ Porém poderia ser mais bela/ Se ela tivesse meu amor, meu amor. ♪
♪ Queiram ou não queiram os juízes/ O nosso bloco é de fato campeão/ E aqui estamos cantando essa canção/ Viemos defender a nossa tradição/ E dizer bem alto que a injustiça dói/ Nós somos madeira de lei que cupim não rói. ♪
♪ E Recife adormecia/ Ficava a sonhar/ Ao som da triste melodia. ♪
♪ Bate-bate com doce/ Eu também quero/ Eu também quero/ Eu também quero. ♪
♪ Deixa o frevo rolar,/ Eu só quero saber/ Se você vai ficar,/ Ai meu bem sem você não há carnaval,/ Vamos cair no passo/ E a vida gozar. ♪
♪ Sou do Recife com orgulho e com saudade/ Sou do Recife com vontade de chorar,/ O rio passa levando barcaça pro alto do mar,/ E em mim não passa essa vontade de voltar/ Recife mandou me chamar. ♪
♪ Morena tropicana/ Eu quero o teu sabor. ♪
Além de dançar muito ao som do frevo e do maracatu tocados pelas bandas das troças carnavalescas que percorriam a pé juntos aos foliões as ladeiras de Olinda, também comíamos queijo de coalho assado e, como nosso preparo caseiro já tinha acabado nas primeiras ladeiras, bebíamos caipirinha, cerveja e vinho, uma mistura e tanto que deu certo! Para ajudar a aliviar o calor, nos tornávamos alvo das pistolinhas de água que divertiam os marmanjos.
Após brincar em Olinda durante todo o dia, íamos ao apartamento, tomávamos banho, comíamos algo que realmente alimentasse, nos arrumávamos e íamos continuar nosso carnaval no Recife Antigo. Ali já era outro nível. As pessoas se arrumavam melhor, desfilavam nas ruas os tradicionais blocos de frevo, maracatu e caboclinhos. Na Praça do Marco Zero é montado um palco enorme onde se apresentam grandes nomes da música: Antônio Nóbrega, Alceu Valença, Elba Ramalho e SpokFrevo Orquestra são alguns dos nomes que abrilhantam a noite do carnaval recifense. Sem falar que Recife possui o maior bloco de carnaval do mundo, o Galo da Madrugada: ♪ Ei pessoal, ei moçada/ O carnaval começa no Galo da Madrugada. ♪
Para quem gosta de brincar carnaval, não existe melhor lugar do que Pernambuco. Você economiza mais, conhece gente do mundo inteiro, se diverte com tranqüilidade (as pessoas pedem desculpas quando pisam no seu pé!), todo mundo divide o mesmo espaço e brinca de igual para igual.
Um capítulo a parte são os “amores de carnaval”. Lá os homens não chegam na mulherada logo querendo beijar e depois viram as costas e saem agarrando a próxima mulher que vêem pela frente. Os pernambucanos conversam, elogiam, brincam e aí, se a mulher quiser, beijos calientes são trocados e, dependendo do entrosamento do casal, o “romance” pode durar o carnaval inteiro!
A brincadeira é tão gostosa, parece que todo mundo se torna criança de novo! A diversão é tanta que Luiz Bandeira fez um frevo que traduz o sentimento do pernambucano ao se despedir do carnaval: ♪ É de fazer chorar/ Quando o dia amanhece/ E obriga o frevo acabar/ Oh! Quarta-feira ingrata/ Chega tão depressa/ Só pra contrariar. ♪
Nesses quatro anos muita coisa mudou, entre elas, parei de ingerir bebidas alcoólicas. Porém, minha paixão pelo carnaval pernambucano continua viva e um dia voltarei a frevar naquelas ladeiras.
MUITO LEGAL.... PASSO TODOS OS ANOS CARNAVAL EM OLINDA, MORO EM JOÃO PESSOA E SOU UM DOS DIRETORES DE UMA CASA QUE HOSPEDA PESSOAS DE MUITOS LUGARES DO BRASIL.
ResponderExcluirSUAS PALAVRAS TEM POESIA.